
Você já teve um sonho que te trouxe algum tipo de resposta para um dilema que você estava vivendo? Ou quem sabe um sonho que te deu uma ideia genial para resolver alguma situação?
Eu já tive sonhos assim. Claro que não foram sonhos do tipo eureca, como o do químico russo Dmitri Mendeleev que estava tentando organizar os elementos químicos de forma coerente quando, segundo seu relato, teve um sonho no qual os viu dispostos em uma estrutura lógica, o que o ajudou a conceber a primeira versão da Tabela Periódica em 1869.
Ou o sonho de August Kekulé, químico alemão que estava tentando entender a estrutura do benzeno quando, em um sonho, viu uma cobra mordendo a própria cauda, formando um anel. Essa imagem o inspirou a propor que a molécula de benzeno tinha uma estrutura cíclica, um avanço crucial para a química orgânica.
Ou ainda Mary Shelley que em 1816 participou de um desafio literário proposto por Lord Byron para escrever uma história de terror. Após uma noite de sonhos vívidos, ela acordou com a ideia do que se tornaria Frankenstein, uma das obras mais influentes da literatura gótica e da ficção científica.
Meus sonhos foram singelos, mas ajudaram a resolver demandas que estavam atrasando a minha vida. Em algum momento escrevo sobre eles no blog.
Os sonhos sempre foram vistos como uma fonte de inspiração criativa, mas apenas recentemente a ciência tem reunido evidências experimentais de que sonhar pode auxiliar na resolução de problemas. Li alguns artigos sobre o assunto. Vou comentar aqui um deles.
Um estudo investigou esse fenômeno ao pedir que participantes resolvessem analogias antes de passarem por diferentes condições de descanso: cochilos sem sonhos, cochilos com sonhos ou simplesmente um período de repouso silencioso. Posteriormente, enfrentaram desafios que exigiam associações criativas e envolviam elementos das analogias iniciais.
Os resultados mostraram que aqueles que sonharam conseguiram estabelecer conexões com mais facilidade e tiveram um desempenho superior na resolução dos problemas, enquanto os outros dois grupos se saíram como se nunca tivessem sido expostos às pistas iniciais.
Curiosamente, todos os grupos se lembravam das pistas de maneira semelhante em testes de memória, o que indica que o efeito dos sonhos não estava relacionado à mera retenção de informações, mas sim à sua reorganização e reinterpretação criativa!
De acordo com a pesquisadora Sara Mednick, da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), e seus colaboradores, durante o sono REM ocorre uma ativação cortical mais ampla, o que permite que o cérebro conecte ideias associadas de forma mais fluida.
Esse processo é facilitado por mudanças nos níveis dos neurotransmissores norepinefrina e acetilcolina, que criam um estado ideal para associações inovadoras emergirem.
A coautora Denise Cai complementa essa ideia ao sugerir que os sonhos podem ajudar a destravar informações latentes na mente: “Muitas vezes, já temos a solução armazenada em algum lugar do cérebro, mas ela precisa de um ‘impulso’ extra para se tornar acessível”.
Esse estudo não é novo, data de 2009. Essa é a referência, se você tiver interesse em ler o estudo: Cai, D. J., Mednick, S. A., Harrison, E. M., Kanady, J. C., & Mednick, S. C. (2009). REM, not incubation, improves creativity by priming associative networks. Proceedings of the National Academy of Sciences, 106(25), 10130-10134.
Muitos casos históricos ilustram como os sonhos podem desempenhar um papel decisivo na criatividade e na descoberta:
- Arte: O pintor Jasper Johns sonhou com uma bandeira americana e, inspirado por essa visão, criou Bandeira, uma de suas obras mais icônicas.
- Ciência: Em 1920, o farmacologista alemão Otto Loewi concebeu, durante um sonho, a ideia de um experimento que demonstraria a transmissão química dos impulsos nervosos, um avanço que lhe rendeu o Prêmio Nobel.
- Música: O compositor e violinista italiano Giuseppe Tartini sonhou que fazia um pacto com o diabo, que então tocava uma peça de violino incrivelmente bela. Ao acordar, Tartini tentou reproduzir a melodia e compôs a sonata O Trilo do Diabo, uma de suas obras mais famosas.
Esses exemplos reforçam a hipótese de que os sonhos não apenas refletem nosso mundo interno, mas também podem atuar como catalisadores para a inovação e o insight criativo.
Isso não é incrível?!
Uma maneira de começar a acessar seus sonhos é ter um diário de sonhos. Lembrar deles podem não ser uma tarefa fácil no início. Muitas pessoas têm dificuldade para lembrar dos sonhos, mas a prática vai modificando isso.
Bons sonhos para você!!