
Na intrincada teia da psique humana, os símbolos oníricos transitam entre dois universos fundamentais: o pessoal e o coletivo. Como um rio que flui entre margens distintas, os sonhos revelam uma complexa interação entre experiências individuais e padrões arquetípicos universais.
Talvez este seja o ponto mais significativo da interpretação dos sonhos: encontrar o significado individual de uma imagem onírica. Entenda por imagem onírica as imagens que aparecem no seu sonho. Se o sonho fala do sonhador, é provável que ele utilize, em primeira mão, uma linguagem que esteja conectada com as vivências do sonhador, criando uma teia de significados que só o sonhador tem como acessar.
Os símbolos pessoais emergem da história única de cada pessoa. São construídos a partir de memórias, traumas, alegrias e experiências singulares. Um objeto aparentemente banal, como um sapato da infância ou um brinquedo esquecido, pode carregar significados profundamente pessoais, compreensíveis apenas para aquele que sonha.
Por isso, antes de procurar um dicionário de símbolos o sonhador deve buscar nas suas memórias as imagens refletidas nos sonhos. Sonhou com a casa da infância toda bagunçada? Isso te traz alguma memória, te lembra de algo, tem algo que possa ser associado a esta imagem onírica? Essa reflexão é essencial para a correta interpretação dos símbolos presentes nos sonhos.
Eu tenho o hábito de escrever meus sonhos há muitos anos. Tenho muitos cadernos com sonhos anotados. Percebo que quando escrevo meus sonhos muitas vezes consigo fazer alguma associação com a imagem onírica. O mesmo não costuma acontecer quando eu apenas lembro/penso no sonho. Parece que, ao escrever, consigo estabelecer uma conexão mais profunda com os símbolos presentes nos sonhos. Quem sabe o mesmo possa acontecer com você.
Além dos símbolos pessoais que são todos os registros de nossa experiência pessoal, conscientes ou inconscientes, os símbolos coletivos transcendem a experiência individual. São padrões universais que habitam o inconsciente coletivo, manifestando-se independentemente de cultura, época ou contexto pessoal. A água, por exemplo, simboliza emoções, transformação e renascimento em praticamente todas as tradições míticas e psicológicas. A figura do herói, a sombra, a grande mãe – estes são arquétipos que ressoam além das fronteiras individuais.
Na interpretação junguiana, o verdadeiro insight surge quando conseguimos compreender como esses símbolos pessoais e coletivos dialogam. Um sonho pode ser apenas uma narrativa individual, trazendo apenas símbolos individuais. Outros sonhos, os grandes sonhos, podem ser também uma complexa comunicação entre o mundo interno do sujeito e as estruturas simbólicas universais que habitam nossa psique coletiva.
A habilidade na interpretação dos sonhos reside justamente nesta capacidade de distinguir e integrar o pessoal e o universal, reconhecendo que cada sonho é simultaneamente uma expressão única de uma jornada individual e um eco de padrões psíquicos milenares.
Bons sonhos para você!