Conexão interior: o poder transformador da espiritualidade

 Somos parte do todo e construímos, a cada dia, uma história que se entrelaça com a de outras pessoas. Mas também somos únicos e, nessa busca pela própria essência, precisamos de um tempo para estar em contato com o mais profundo em nós.

A nossa essência é o que há de mais profundo e íntimo. Alguns a chamam de alma, outras de espírito. Um dos conceitos de Jung que se assemelha a essa ideia é o conceito de Self. Podemos considerá-la a coisa mais íntima que possuímos, aquilo que realmente somos.

Por isso a espiritualidade é algo inerente ao ser humano. A experiência espiritual nada mais é do que entrar em contato com esse núcleo tão profundo. Qualquer pessoa pode vivenciá-la, mesmo quem não tenha um vínculo religioso, mesmo um ateu. Essa experiência rica, profunda e transformadora dá conteúdo e sentido a nossa vida.

Não vamos confundir espiritualidade com religião. A religião surge quando a experiência original de um grande mestre é esquematizada e transformada em um sistema de crenças, com seguidores.

“Podemos falar de espiritualidade quando começamos a perceber uma consciência diferente do ego e a viver cada vez mais nela ou sob sua influência. É essa consciência vasta, infinita existente em si mesma, desnudada de ego, que chamamos de Espírito”. Sri Aurobindo Ghose (1872-1950). 

Essa consciência diferenciada do Ego não responde ao desejos e demandas do Eu. Não está conectada com os modelos de sucesso destacados socialmente. É desprendida daquilo que é imposto pelo modus operandi. Há nela uma autenticidade e uma verdade que supera as expectativas de consumo ou poder.

Essa essência  se expressa através daquilo que transpõe os limites do Eu. Está sempre ligada as conexões que podem ser feitas, mergulhadas naquilo que é benéfico para o Eu e o coletivo. Neste campo, o Eu e o Outro mergulham cada vez mais no Nós.

Esse é um caminho difícil para os tempos atuais, onde o individualismo é a marca. Onde o Eu é um símbolo carregado de força e o Nós é um símbolo atrelado a dúvida e a insegurança. Instintivamente buscamos Nós, mas por estarmos pouco conectados com nossa espiritualidade, encontramos inúmeras barreiras para superar as dificuldades do caminho. Esse Ego tão fragilmente estruturado e tão fortemente cultivado, resiste a entregar-se a experiência de não ser o seu próprio centro.

Jung disse que o Ego é o centro da consciência (que é pequena em comparação ao inconsciente) e que há uma estrutura que abarca uma infinidade de outras possibilidades, que é o Self. O Self  “designa a gama de fenômenos psíquicos no homem [conscientes e inconscientes]. Ele expressa a unidade da personalidade como um todo”. (Obras Completas, Vol. 6, par. 789)

Somos tão focados no nosso Eu, que nem percebemos o campo restrito em que nos colocamos. Estamos nos colocando fora do campo da criatividade. Fora do campo onde a dimensão espiritual do ser humano pode atuar mais profundamente em nossa vida.

Existem muitas maneiras para você acessar a sua espiritualidade. Essa é uma busca que cabe a você realizar. Alguns a encontrar na música, outros no silêncio, ou na meditação, na dança, em viagens ou na psicoterapia, na religiosidade ou na caridade, etc. Os sonhos também podem ser um caminho de auxílio à conexão com essa dimensão mais profunda. O importante é que você se volte para essa dimensão do seu ser, e estabeleça contato com essa essência profunda e integradora.

Sobre a autora

Giane é psicóloga junguiana com mais de 20 anos de experiência em interpretação dos sonhos. Apaixonada por simbolismo e autoconhecimento.

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