Jung viu os sonhos como uma tentativa da psique de comunicar coisas importantes ao indivíduo. Ele os valorizava e os considerava uma forma de saber o que realmente estava acontecendo no universo psíquico do analisando. Também compreendia que os sonhos contribuem para o desenvolvimento da personalidade, através do processo que ele chamou de individuação.

“Os sonhos são produtos imparciais e espontâneos da psique inconsciente, fora do controle da vontade. Eles são pura natureza; eles nos mostram a verdade natural e sem envergadura, e, portanto, estão instalados, como nada mais, para nos devolver uma atitude que está de acordo com nossa natureza humana básica quando a nossa consciência se desviou muito dos seus fundamentos e se depara com um impasse “.
Enquanto Freud pensava que os sonhos expressavam desejos proibidos que tinham que ser disfarçados, Jung viu os sonhos como expressando abertamente as coisas. Ele escreveu:
“Eles não enganam, eles não mentem, eles não distorcem ou se disfarçam (…)Eles invariavelmente tentam expressar algo que o ego não conhece e não entende”.
A dificuldade em compreender os sonhos frequentemente deve-se a dificuldade em compreender a sua linguagem. A linguagem do sonho é a linguagem simbólica. O inconsciente, através dos símbolos, “constrói” o sonho. E dessa linguagem rica e profunda emerge o sentido do sonho. Segundo Jung os símbolos são a melhor formulação possível para um conteúdo psíquico.
ELEMENTOS PARA A ANÁLISE DO SONHO
- O nível objetivo versus o nível subjetivo:
Todo sonho pode ser analisado em nível objetivo ou em nível subjetivo (algumas vezes considero as duas possibilidades na mesma análise). O nível objetivo é o que considera as imagens dos sonhos como correspondentes a objetos/pessoas/relações do mundo real do sonhador. Nesse caso, se a pessoa sonha que está discutindo com a mãe, será levada em consideração a relação que a pessoa tem com a mãe no seu cotidiano. Se a análise ocorrer em um nível subjetivo a figura da mãe no sonho torna-se representante de aspectos da personalidade do sonhador.
Em síntese, embora as imagens dos sonhos possam corresponder a diferentes partes da própria psique do sonhador (nível subjetivo), elas também podem corresponder às pessoas no mundo das relações do sonhador (nível objetivo). No primeiro caso, a(s) pessoa(s) em questão são símbolos para representar aspectos pessoais que tendem a ser desconhecidos/negligenciados/negados pelo sonhador e que dizem respeito somente a ele mesmo.
Não existe uma regra que defina em qual nível o sonho deverá ser analisado. A prática na análise de sonhos é que indica qual a análise mais adequada para o sonho em questão.
2. Amplificação:
Um ponto essencial para toda análise é amplificar o conteúdo do sonho, ou seja, fazer com que o sonhador faça associações com as imagens/situações/emoções presentes no sonho. Depois que o sonhador fizer suas associações pessoais, o analista amplifica os símbolos contidos no sonho através de associações míticas, religiosas, de contos de fadas e arquetípicas.
As imagens dos sonhos, portanto, devem ser tratadas como símbolos, que podem estar representando elementos da psique do sonhador. Feita a amplificação com as associações pessoais do sonhador e estabelecendo a qual nível o sonho se reporta, se objetivo ou subjetivo, podemos ser capazes de entender um sonho e o que ele está tentando comunicar ao sonhador. Geralmente, o sonho ocorre para compensar a atitude atual e consciente do sonhador, de alguma forma unilateral ou incompleta.
Um pensamento final sobre os sonhos:
Jung escreveu:
“Eu notei que os sonhos são tão simples ou tão complicados como o sonhador, eles estão sempre um pouco à frente da consciência do sonhador. Eu não entendo meus próprios sonhos melhor do que qualquer um de vocês, pois eles estão sempre além do meu alcance e eu tenho o mesmo problema com eles que qualquer um que não conheça a interpretação dos sonhos. O conhecimento não é uma vantagem quando a questão é seus próprios sonhos”.
Bons sonhos para você!
Sobre a autora
Giane é psicóloga junguiana com mais de 20 anos de experiência em interpretação dos sonhos. Apaixonada por simbolismo e autoconhecimento.