Sincronicidades: coincidências significativas, um elo sem causa e efeito

A sincronicidade é desses acontecimentos que podem despertar emoções, novas percepções ou trazer mudanças significativas em nossa vida. Às vezes ocorre ao recebermos uma ligação de alguém com quem sonhamos na noite anterior; ou um livro que traz as respostas a uma questão que nos aflige, como se tivesse sido escrito para dar aquela resposta, naquele momento;  ou quanto temos uma intuição que surpreendentemente se confirma.

O termo sincronicidade aparece pela primeira vez nos textos de Jung em 1928, no seminário Dream Analysis. Contudo, só em 1952, já com 75 anos, que Jung escreve o texto Sincronicidade: um princípio de conexão acausal. 

Sincronicidade refere-se a eventos que se ligam entre si devido seu significado, um elo que não pode ser explicado por meio de causa e efeito. São coincidências significativas, que normalmente nos surpreendem e fazem com que tenhamos uma nova percepção da situação.

Ao longo de sua obra, Jung deu várias definições ao conceito de sincronicidade. Destaco algumas delas:

 

“Coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo”. Obras Completas, Vol. VIII, par. 849.

“Um conteúdo inesperado, que está ligado direta ou indiretamente a um acontecimento objetivo exterior, coincide com um estado psíquico ordinário”. Obras Completas, Vol. VIII, 855.

“Coincidência significativa de dois ou mais acontecimentos, em que se trata de algo mais do que uma probabilidade de acasos”. Obras Completas, Vol. VIII, par. 959.

“Uma peculiar interdependência de eventos objetivos entre si, assim como os estados subjetivos (psíquicos) do observador ou observadores”. I Ching.

As primeiras ideias de Jung a respeito da sincronicidade tem suas origens nos estudos da filosofia oriental, principalmente o I Ching. Posteriormente, Jung buscou desenvolver uma base teórica para a hipótese da sincronicidade, principalmente depois de algumas conversas que teve com Einstein. Foi então, em busca de fundamentação teórica dentro da física moderna, principalmente com a contribuição do físico austríaco Wolfgang Pauli.

Jung descreveu três tipos de sincronicidades:

  • A coincidência entre um conteúdo mental (pensamento ou sentimento) e um evento externo objetivo simultâneo;
  • A situação onde a pessoa tem um sonho ou intuição que coincide com um acontecimento que está ocorrendo (normalmente a distância), e que posteriormente é comprovado;
  • A situação onde uma pessoa vê uma imagem (sonho, visão, intuição), de algo que ocorrerá no futuro, e que efetivamente acontece.

Um exemplo de sincronicidade muito citado por Jung foi o evento ocorrido em um de seus atendimentos. Ele atendia uma mulher “que sempre sabia mais a respeito de tudo”, o que dificultava o seu processo de análise, devido o excesso de racionalização.

Após varias tentativas infrutíferas de suavizar o seu racionalismo com uma compreensão um pouco mais humana, tive de restringir-me à esperança de que acontecesse algo inesperado e irracional, algo que quebrasse a retorta intelectual na qual ela se havia confinado. Pois bem, certa vez eu estava sentado à sua frente, de costas para a janela, escutando o fluxo de retórica. Ela tivera um sonho impressionante na noite anterior, no qual alguém lhe havia dado um escaravelho de ouro – uma joia valiosa. Enquanto me contava esse sonho, ouvi algo bater de leve na janela atrás de mim.  Ao me virar, vi que era um inseto voador bem grande que batia do lado de fora, no vidro da janela, obviamente tentando entrar no aposento escuro. Pareceu-me muito estranho. Abri a janela imediatamente e peguei o inseto no ar, quando ele voava para dentro. Tratava-se de um besouro escarabídeo, cuja tonalidade verde-dourada o fazia assemelhar-se com um escaravelho de ouro. Entreguei o besouro à minha cliente, dizendo-lhe: “Aqui está o seu escaravelho”. Esta experiência abriu uma brecha em seu racionalismo, e quebrou o gelo de sua resistência intelectual. Agora o tratamento podia continuar, e com resultados satisfatórios. 

Essa experiência foi emocionalmente significativa para a cliente de Jung, o que teve um efeito transformador, tirando-a do racionalismo excessivo.

A sincronicidade existe a partir de uma percepção humana. É necessário que uma pessoa tenha um entendimento subjetivo que dê sentido a ‘co-incidência’É a pessoa quem faz a ligação entre os eventos, que não necessariamente precisam ser simultâneos, mas que frequentemente o são.

A experiência de sincronicidade mais significativa que tive ocorreu certa vez, enquanto preenchia um cheque. Antes mesmo de terminar de preenchê-lo intuí que o cheque seria adulterado. No momento esse pensamento me pareceu sem sentido e finalizei a compra. Passado mais de uma semana, uma inquietação me fez tirar um extrato bancário. Para minha surpresa, o tal cheque havia sido adulterado. O cheque foi compensado com um valor 20 vezes maior do eu havia preenchido. Por sorte, consegui resolver a situação sem prejuízo financeiro.

A sincronicidade é esse elo de ligação entre a psique e o evento, o que a transforma em uma coincidência significativa. Difere da causalidade, onde uma sequência de eventos pode ser explicada pela lógica e que geralmente pode ser repetido.

As sincronicidades são frequentes em nossa vida, o problema é que nem sempre estamos atentos a esses eventos.

Eu, particularmente gosto desse lado meio amigo, conselheiro, da sincronicidade. Gosto desse efeito transformador, dessa energia que é mobilizada e que traz a certeza, mesmo que só por alguns segundos, de que tudo está conectado.

Quando a sincronicidade toca a consciência, sempre traz consigo uma ideia que transforma seu momento, direciona suas escolhas e te dá a leveza de saber que está no caminho certo.

E você, já viveu muitas sincronicidades?

Que elas continuem trazendo mais vida a sua vida.

Sobre a autora

Giane é psicóloga junguiana com mais de 20 anos de experiência em interpretação dos sonhos. Apaixonada por simbolismo e autoconhecimento.

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