Não desperdice seus Sonhos

Eu sou fascinada pelo estudo dos sonhos desde minha juventude.

Comecei devagar, bem devagar. Na época nem imaginava que este seria um tema tão presente na minha vida.

Minha experiência diária com a escuta e a interpretação dos sonhos intensifica ainda mais este fascínio. Os sonhos significativos moldam uma convicção na existência de algo mais, além do que nossos olhos conseguem ver e nossos pensamentos alcançar. Parece haver uma inteligência que supera a nossa e abarca o todo, e que se expressa através dos sonhos. Mas sei que, para quem não tem essa experiência, é difícil acreditar que os sonhos podem ter algum significado útil.

Em nosso tempo, os sonhos são objeto de pesquisa científica. Em grande parte, essas pesquisas nomeiam os sonhos como subprodutos de processos neurológicos subjacentes ao sono. Meros efeitos de reminiscências do dia a dia.

A maioria, inclusive, rejeita a ideia do inconsciente. Imagine considerar que os sonhos possam ter significado.

Os estudos científicos sobre os sonhos concentram-se em estudar aquilo que pode ser abarcado pelo método científico. Tudo o que não for replicável ou for subjetivo tende a não combinar com os modelos de pesquisa. Isso, sem dúvida, limita o que pode ser estudado cientificamente sobre os sonhos.

Neurocientistas que estudam a origem fisiológica e a função dos sonhos concordam que os sonhos estão ligados a fase REM do sono. O sono REM tem papel importante na consolidação da memória e na regulação das emoções. E muitos ficam com a ideia de que a função dos sonhos não passa disso.

A busca pela compreensão do significado e propósito dos sonhos é assunto de debate desde tempos remotos. E ainda não chegamos a nenhuma conclusão.

Parece que os sonhos vão continuar a ser uma experiência individual, onde uns têm experiências oníricas enriquecedoras e fornecedoras de insights, enquanto outros sequer lembram que sonhos existem.

Minha experiência confirma para mim o quanto os sonhos podem enriquecer a experiência humana. Penso que o mundo seria um lugar muito diferente se muitas pessoas ao longo da história da humanidade não tivessem se atentado para este universo de possibilidades.

Muitas soluções para problemas, inclusive problemas científicos, foram encontradas através de um sonho. Como, por exemplo, o sonho de Mendeleiev que teria tido um sonho que revelou o arranjo da tabela periódica dos elementos.

Segundo contam, em 17 de fevereiro de 1869, Mendeleiev estava cansado e com dificuldade em organizar a química, uma ciência recente. Ele dormiu sobre as anotações que tinha feito e sonhou com uma tabela onde os elementos se encaixavam. Ao acordar, escreveu imediatamente a tabela no papel. 

E como este, existem muitos outros exemplos de soluções para problemas complexos que foram alcançadas através de um sonho.

Penso que a percepção que se tem do sonho está diretamente relacionada as experiências já vivenciadas com sonhos. Quem já teve um insight significativo com um sonho terá mais facilidade em acreditar que os sonhos podem trazer significados relevantes para o sonhador do que aqueles que nunca tiveram essa experiência.

Eu tenho um certo pessimismo, com o qual tenho lutado, quanto ao lugar que os sonhos vão ocupar na vida das pessoas daqui para a frente. Tenho a impressão que uma visão materialista da vida tem cada vez mais povoado a mente e o coração das pessoas. A vida se tornando árida, sem os mistérios profundos da alma.

Contudo, continuo defendendo a importância do trabalho com os sonhos para uma vida bem vivida. Ter um diário de sonhos é um bom caminho para valorizá-los e tentar compreendê-los. O trabalho com sonhos é para quem quer explorar as causas raíz de seus problemas, para quem quer ir fundo na jornada do desenvolvimento pessoal.

Os sonhos nos convidam a acessar nosso “eu oculto”, aquilo que não sabemos sobre nós, mas que afeta cada escolha que fazemos e cada emoção que manifestamos. Os sonhos significativos tem uma sabedoria que o eu consciente desconhece. Seria uma pena desperdiçar isso.

Bons sonhos para você!